SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
ENSINO RELIGIOSO – ERE
PROF. KALIL DE OLIVEIRA
AS RELIGIÕES E SEUS LÍDERES
Um interesse comum no estudo das religiões é sua capacidade de reunir pessoas. Em todo o mundo são conhecidos admiradores de Moisés, Jesus, Buda, Maomé, entre outros. Verdadeiras multidões se formam para seguir o exemplo dos grandes líderes da humanidade.
Graças ao gênio e à capacidade de percepção de MOISÉS, o povo judeu deixou o modo primitivo de culto à natureza no Egito para cultuar o monoteísmo baseado em leis de justiça social e de conduta ética. Moisés continua a ser um exemplo de moralidade social, de lei e de justiça não apenas entre os judeus, mas a inúmeros outros grupos, inclusive os sem filiação religiosa.
Com a notícia de que ressuscitou dos mortos JESUS conseguiu um dos mais admiráveis feitos da humanidade: reunir um rebanho de seguidores estimado hoje em quase 2 bilhões de fiéis. Criado como um judeu comum, apesar da descendência com o rei Davi, Jesus freqüentou a sinagoga local e o templo de Jerusalém. Ao iniciar seu ministério, com 30 anos, inova com seu principal ensinamento: o amor. O cristão deveria amar até mesmo os seus inimigos. Mais que uma renovação do judaísmo, é inegável que Jesus institui algo novo com sua mensagem.
O príncipe Sidarta Gautama, o BUDA, chama a atenção no seu exemplo de busca pela iluminação. Criado num palácio, protegido pelo pai a não conhecer o sofrimento do mundo, flagrou momentos de velhice, doença e morte nas vezes que saiu para passear com os empregados. Em busca de respostas abandona a família e torna-se um simples indiano. Pela meditação compreendeu a natureza real do sofrimento e como superá-lo. Ensina que a iluminação é alcançada pela própria pessoa, sem interlocutores.
No caminho de busca do verdadeiro Deus, MAOMÉ, ou Mohamed, como é chamado entre os islâmicos, foi visitado pelo anjo Gabriel e requisitado a escrever no Corão (ou Alcorão) as palavras mais vezes repetidas no mundo: "Alá é Deus e Maomé seu profeta". Sua persistência levou-o a fundar o islamismo, religião que mais cresce no mundo, com um número de adeptos estimado em um quarto da população mundial (1,2 bilhão).
Os líderes em geral são cada vez mais fundamentais na vida de um grupo. Um líder de sucesso consegue prever situações de risco para o grupo, planejar as ações mais adequadas para realização dos ideais coletivos, controlar as diferenças entre os membros, defender os interesses e a sobrevivência do grupo, preparar os membros para desempenho de suas funções, representar o grupo no sucesso e na crise, estimular os membros ao trabalho e renovar em tempos de mudança.
Questões: (1) Por que Moisés pode ser considerado um grande líder da humanidade? (2) Como Jesus conseguiu reunir multidões? (3) Que descobertas fez o príncipe Sidarta Gautama tornar-se o Buda? (4) Qual a história de sucesso do profeta Maomé? (5) De que modo o líder é importante num grupo?
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MARKETING RELIGIOSO
A história conta que na Idade Média as pessoas viviam quase que exclusivamente para a vida religiosa. Não havia muita escolha. Era uma época em que os pais doavam um dos filhos para tornar-se padre ou freira e os casamentos dos nobres eram "arranjados". Sendo assim, não havia muita necessidade em tornar a fé católica atraente - a tradição falava mais alto. Entretanto, com o protestantismo e os ataques da ciência e da filosofia, entre outros, a situação inverteu. As inúmeras igrejas de hoje vivem preocupadas em atrair as pessoas e "segura-las" nesta fé.
Concorrência à parte, não demorou para os religiosos descobrirem o marketing, a mídia e o seu poder. Inevitavelmente, as religiões precisam competir pelos fiéis e pelo menos dois aspectos tornam-se fortemente utilizados: teologias mais atrativas e cuidado na preservação de uma boa imagem.
Procurando ganhar adeptos as lideranças religiosas em cada grupo prometem mais e mais facilidades, privilégios e "bens" de salvação: paz interior, riquezas, curas, etc. Há coisas também que não ficam bem de se proibir. Com o tempo, as igrejas se adaptam ao gosto ou tendência da sociedade. Diante da instabilidade do casamento e a liberalização sexual, por exemplo, surgem chefes religiosos que celebram a união conjugal de pessoas do mesmo sexo sem qualquer ressentimento.
Para atingir a simpatia do público é preciso também manter uma boa imagem. As religiões ganham indiretamente espaço na mídia com o apoio de pessoas ricas e famosas, ou simplesmente adquirem canais de rádio e televisão para transmitir livremente sua ideologia. Nas últimas décadas o interesse do público por religião também aumentou. No início do século, por exemplo, a Globo produzia ao mesmo tempo três novelas com enfoque religioso (A Padroeira, Um anjo que caiu do céu e O clone). Outro exemplo foi o crescimento do Budismo e da Seicho-no-ie no Brasil que coincidiu com uma maior exposição da cultura oriental na mídia, os filmes japoneses e os Beatles. Hoje, praticamente todas as tradições religiosas possuem no mínimo uma revista ou informativo para ser distribuído entre seus membros.
Com espaço na mídia, as estratégias do marketing religioso revelam várias saídas como posar de vítima ou de perseguido, mostrar grandes templos e poder econômico, enfatizar um lugar na história, apelar para a tradição, o passado, a etnia, demonizar a "concorrência", etc. A criatividade, enfim, tornou-se fundamental no mercado da fé.
Questões: (1) O que pode ter interferido na religiosidade praticada na Idade Média? (2) O que é marketing religioso? (3) Por que é importante para as religiões manterem uma boa imagem? (4) De que forma a mídia pode interferir na religiosidade do povo brasileiro? (5) Quais alternativas de marketing são aplicáveis no mercado da fé?
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RELIGIÃO E CONTROLE SOCIAL
O homem é um ser relativamente livre. Ninguém escolhe a família que gostaria de nascer, a nacionalidade, características genéticas como cor dos olhos, cabelo, estatura, etc., mas mesmo assim tem uma infinidade de decisões para fazer durante a vida. É comum ouvir que livres são aqueles que podem escolher, que têm vontade própria, são conscientes e podem circular tranqüilamente por onde quiserem.
Apesar da evidente liberdade, não se pode dizer que o homem consiga escapar completamente das influências externas. A família, os amigos, a propaganda, os jornais, as revistas, o rádio, a televisão e, inclusive, as religiões, exercem algum tipo de controle, influência, sobre o homem. Dois exemplos claros do controle social de orientação religiosa aconteceram no oriente médio e no extremo oriente. Primeiro a revolução religiosa do Irã em 1979 e, depois, o processo milenar de divisão social da Índia conhecido como sistema de castas. Tanto o Estado Islâmico introduzido pelo Aiatolá Ruhollah Khomeini em plena guerra fria quanto a exclusão dos páreas do rígido regime de divisão social no hinduísmo indiano têm sua sustentação religiosa.
Os iranianos, em 1 de abril de 1979, declararam oficialmente que o Irã é uma república islâmica e substituem a constituição pelo Alcorão, além de entregarem toda a autoridade política ao líder religioso Khomeini. O Alcorão como livro sagrado do islamismo foi exaustivamente usado para engrandecer as pessoas obedientes ao Islã e abominar os infiéis. Muitos motivos de prisões e execuções estavam baseados nos preceitos religiosos islâmicos e até uma polícia religiosa foi instituída. Os conservadores iniciaram com isso um completo isolamento do Irã à cultura do Ocidente. Em pouco tempo, com o apoio dos EUA, o Iraque inicia uma sangrenta guerra com o Irã. Com ajuda da ex-URSS a militância iraniana sai vitoriosa, mas não conseguiu impedir as fortes sanções econômicas estadunidenses.
Enquanto isso, na Índia, religiosos baseiam-se na tradição religiosa para impedir o convívio de pessoas de classes sociais diferentes, chamadas de castas. No hinduísmo indiano crê-se que Brahma criou o homem e, a partir do corpo deste, os grupos sociais: sacerdotes (cabeça), reis e guerreiros (mãos), negociantes e artesãos (coxas), e o restante do povo (pés). Os escravos, chamados de páreas, estariam abaixo desses grupos e seriam, portanto, impuros. Na década de 50 a Índia proibiu oficialmente a divisão de castas, mas apenas com o uso da lei parece difícil abolir uma prática de tantos anos. Segundo a tradição, pessoas de uma casta superior devem evitar a companhia de uma pessoa de casta inferior. O párea, por exemplo, não poderia entrar em uma loja, apenas pedir o que quer do lado de fora e esperar para ser atendido.
Questões: (1) O que é controle social? (2) Como a religião estabelece normas de conduta social para seus adeptos? (3) Em relação à convivência diária, quais seriam as vantagens e desvantagens da vida religiosa? (4) O que é o Estado Islâmico? Quais foram as repercussões das revoluções políticas nos países islâmicos na década de 80? (5) De que modo o mundo moderno pode lidar com o sistema de castas hindu que é praticado na Índia? (6) Que outros problemas podem ser apontados a partir do totalitarismo religioso?
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PLURALISMO RELIGIOSO E CONVIVÊNCIA
A juventude é uma fase da vida social que chama a atenção principalmente pela personalidade inquieta, contestadora, comum nos jovens. Mas não são os únicos. É comum encontrar alguém que quer defender, impor seu ponto de vista, passando por cima de quem se manifestar contrário às suas idéias. Enquanto os jovens discutem com seus pais, os professores e até com os melhores amigos, o cidadão impaciente é um chato que demora em descobrir o ponto de vista dos outros.
As atitudes religiosas mais “radicais” são assim. Pessoas de fortes convicções, movidas pelo sentimento da incompreensão, acabam tachando os outros de burros, imperfeitos, errantes, perdidos, etc. Apesar de saber que o diálogo e a alteridade (estar com o outro) é importante para uma vida em sociedade, não são todos que conseguem controlar-se diante de alguém que se apresenta como contrário ao seu pensamento. O pior acontece quando surgem aqueles que acreditam em suas verdades como únicas e despertam agressividade ao outro, seu novo inimigo.
A convivência exige treino, dizem os analistas do comportamento. Entre as dicas fala-se que as pessoas impacientes em geral têm dificuldade em aprender a soltar o corpo, evitar a tensão, o estresse. Quem está com o corpo debilitado e pesado está mais exposto a agressões.
Além disso, recomenda-se: (a) experimentar o ponto de vista do outro – sempre que houver uma discussão, ouvir o outro e tentar se colocar no lugar de quem está do outro lado; (b) adotar a maturidade – ao contrário de uma criança, pensar como um adulto razoável encontraria solução para o problema; (c) cuidar com o círculo vicioso – quando estiver discutindo, perceber se a divergência está baseada em argumentos repetitivos ou se está continuamente justificando o ponto de vista por experiência própria; (d) informar-se sempre – antes, durante e depois de qualquer divergência.
A convivência religiosa começa com o respeito a si mesmo e a convivência com quem está perto, na família, no bairro e na escola. Não vale a pena ficar resistindo com teimosia sem argumento ou acomodação. Sempre que for necessário ouvir alguém que pensa diferente, é preciso se mexer. Não é hora de fanatismo, mas de relaxar e avaliar as próprias convicções e comportamentos. A convivência existe quando um está disposto a aprender com o outro e ambos crescerem juntos.
Questões: (1) O que é teimosia e fanatismo religioso? (2) Que vantagens se podem tirar da convivência com a diversidade? (3) Quais os fatores que podem levar o jovem a querer passar por cima de quem se mostrar contrário às suas idéias? (4) Por que as pessoas temem tanto o fanatismo religioso? (5) Como o consumismo interfere na convivência pacífica entre as pessoas e religiões? (6) Que recomendações podem ser feitas no sentido de evitar conflitos? (7) O que quer dizer a "regra de ouro" das religiões?
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ANIMISMO
O animismo é a religião mais antiga da humanidade e de certo modo serviu de modelo para as demais religiões. Ele está mais ou menos presente em nossas crenças atuais, até nas consideradas mais elevadas.
A maior parte da África é animista, mas há também outros povos. Ásia, América (Brasil, Antilhas e Caribe), são alguns exemplos. O animismo está bastante vivo no mundo rural, especialmente quando pouco atingido pela migração para as cidades. A população animista está estimada em 200 milhões em todo o mundo. Os animistas cultuam os espíritos dos ancestrais, acreditam nos poderes anímicos da natureza, praticam a magia, o curandeirismo, fazem sacrifícios de animais, oferendas rituais às divindades.
Em geral os animistas não constroem templos para os seus deuses. Mas são a eles que são dirigidas orações nos momentos difíceis, antes da guerra, da caça ou da morte de um chefe. Alguns animistas constroem pequenos altares nas casas dos ancestrais falecidos, e mantêm ali os seus utensílios domésticos, como também levam alimentos. O culto e o rito são uma dessas dimensões. O culto é dirigido à terra (semeadura, colheita, caça, epidemias, brigas), também o fogo, ar, água, sol, lua e estrelas. Outros símbolos venerados são a chuva, caça, pedras, rios e as árvores, bem como o culto aos gênios.
Todo o ritual está fundamentado na crença de que o homem pode falar às divindades e aos antepassados, ser ouvido por eles e determinar sua ação segundo seus temores e desejos. Toda a vida é rito. Alguns ritos são domésticos, mas os mais importantes são comunitários. Eles celebram o deus supremo, os gênios ou o antepassado da aldeia, seja em lugar consagrado, túmulo do ancestral, árvore e margem de rio sagrado.
Os ritos podem ser classificados em três grandes categorias: (1) integração – circuncisão (no homem corta-se o prepúcio e na mulher corta-se o clitóris) marca a passagem da infância para a vida adulta; (2) purificação – é uma espécie de confissão muitas vezes feita por banhos em rios ou por abstinência a comer carne e a ter relações sexuais, pois apagam as impurezas de algumas situações (menstruação) ou de alguns atos; (3) oferenda – é o rito mais freqüentemente praticado, na qual se oferece sacrifício aos deuses em troca de favores ou de agradecimento.
O bem é o respeito aos tabus, o mal é a sua transgressão. Para ser penalizado o animista precisa estar ciente das proibições. A moral é seguir o exemplo dos antepassados e seguir os ritos instituídos e seus costumes. A hierarquia é sempre religiosa. Toda a sociedade, inclusive a primitiva, é hierarquizada. A religião, por seus mitos, legitima e produz essa hierarquia social. Para os animistas os antepassados estão na frente. A mesma ordem se aplica à aldeia, cujo rei ou chefe foi designado pelos antepassados. Em cada família são os mais velhos que comandam as relações. Por isso os filhos jamais discutem com os pais.
Questões: (1) O que é animismo? (2) Como é o culto animista? Qual a importância da tradição oral? (3) Quem são os deuses animistas? (4) Qual o valor do rito para o adepto do animismo? Como são os principais rituais de passagem? (5) Por que a hierarquia tem forte apelo religioso?
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RELIGIÕES SEMITAS
As tribos semitas foram antigos agrupamentos humanos que deram origem a importantes civilizações como fenícios, cananeus e hebreus. O patriarca Abraão é um ilustre descendente semita. Ele teria gerado dois filhos, Ismael (patriarca islâmico), e Isaque, (patriarca judeu e cristão). Foi daí que se convencionou chamar as três grandes religiões mundiais (Islamismo, Judaísmo e Cristianismo) como “religiões semitas”, pois são filhas do mesmo pai, Abraão.
O islamismo foi fundado em 622 d. C. por Maomé na Arábia Saudita. Ele queria unir o Judaísmo e o Cristianismo, pois afirmava que ambos foram infiéis à vontade de Deus. Seu livro sagrado é o Alcorão. Como obrigação religiosa, destaca-se: (1) Profissão de fé no único Deus, Alá, e no seu profeta Maomé; (2) Rezar cinco vezes ao dia voltados para a cidade sagrada Meca; (3) Jejuar, abster-se de qualquer comida ou bebida diurna, durante todo o mês de Ramadan; (4) Visitar Meca ao menos uma vez na vida; (5) Dar esmolas aos pobres e necessitados.
O dia especial de oração é a sexta-feira, pois foi neste dia que Deus criou o homem e que Maomé subiu ao céu. Há duas facções nesta religião: os Xiitas, apenas nove por cento dos seguidores, são extremistas, seguem o Alcorão ao “pé da letra”, e os Sunitas que interpretam as palavras do Alcorão. Islã significa submissão a Deus. É a religião que mais cresce em número de fiéis, pelo número de nascimentos. Pelo Alcorão, os homens podem casar com cinco mulheres. Acreditam que Jesus foi um grande profeta, que os judeus tentaram crucificar, mas Alá o salvou, levando-o vivo para junto de si, e que um dia voltará. O Alcorão fala 25 vezes em Jesus, o filho de Maria, e que ambos nasceram sem pecado. Maria é apresentada como o modelo de mulher islâmica (muçulmana).
Em relação ao Judaísmo, por sua vez, há três pressupostos a considerar: existe um Deus, um povo e uma aliança entre Deus e o povo. Esta fé está explicitada no Antigo Testamento da Bíblia Sagrada dos Cristãos.
Tanto judeus quanto cristãos e islâmicos são monoteístas e crêem: (1) na existência de um Deus único, pessoal, santo, justo, misericordioso, que perdoa e reabilita o pecador que se arrepende; (2) que o homem se encontra numa situação de pecado; (3) Na ressurreição; (4) Que o homem depende de seu Criador, o qual valoriza a liberdade humana.
Como mencionado acima, a história do povo judeu começou com Abraão em torno de 1850 a. C. O livro sagrado é o Torah. Seu dia de descanso e oração é o sábado. São solicitados a rezar três vezes ao dia, para renovar o fervor religioso e a fé. Há grandes festas religiosas: a Páscoa, o início do ano, o dia da purificação, o dia em que lembram a peregrinação pelo deserto durante 40 anos, e o dia em que Moisés recebeu de Deus no Monte Sinai, a Lei para o povo.
Questões: (1) Por que Judaísmo, Islamismo e Cristianismo são "religiões semitas"? (2) Quem foi Abraão? Qual a sua importância no semitismo? (3) O que é Torah? Quais as principais crenças do judaísmo? (4) Qual a importância da pessoa de Jesus Cristo no cristianismo? (5) Quais são os pilares do islamismo? Como diferenciar Xiitas e Sunitas? (6) Que aspectos em comum podem ser encontrados nas religiões semitas?
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HINDUÍSMO
O hinduísmo é o conjunto de doutrinas e práticas religiosas dominantes na Índia. Seus seguidores o conhecem como Sanatana Dhama, a ordem eterna. Alguns de seus escritos mais importantes são os Vedas, textos sagrados compostos por hinos de louvor e ritos. Agrupados em quatro volumes durante o século X a.C., contêm verdades eternas reveladas pelos deuses: a ordem que rege as coisas e os seres.
A tradição védica nasce com os arianos, povos da Ásia Central, que a levam para a região da Índia em 1500 a.C., ao invadir e conquistar os vales dos rios Indo e Ganges. Acreditam na reencarnação, ou seja, que a alma vai e volta diversas vezes, instalando-se em diferentes corpos. É a terceira religião do mundo em número de adeptos, atrás do cristianismo e do islamismo.
A Índia, que por muito tempo foi uma colônia inglesa, soube tirar proveito de sua filosofia religiosa para conquistar a independência sem o derramamento de uma única gota de sangue. Mahatma Gandhi foi o líder do movimento pacífico conhecido por “não-violência” que culminou com o fim do domínio da Inglaterra.
Outro problema a enfrentar foi o milenar sistema de castas. O ensinamento hindu diz que Brahma teria criado o primeiro homem e deste feito os diferentes grupos sociais: reis, guerreiros, artesãos e súditos. Os páreas não fariam parte desta criação, por isso são considerados impuros. Por conta do impedimento de relacionamento entre as castas e do preconceito contra os páreas, a constituição de 1950 proibiu essa prática, mas o costume ainda é muito forte em alguns lugares do país.
O hinduísmo do modo como ele é praticado é pouco conhecido no ocidente uma vez que a religião não tem o objetivo de ganhar novos adeptos. O hindu busca fundir-se a Brahman tentando libertar-se do samsara pela purificação de seus infinitos carmas. Ao nascer e morrer diversas vezes, aprimorando-se a cada encarnação, o fiel tende a atingir um estado de perfeição. Ele resulta do conhecimento de si mesmos e do Universo. O caminho para a perfeição passa pelas práticas religiosas, pelas orações e pelo ioga, palavra que significa união ou conexão com Deus. Muitos hindus adotam dietas vegetarianas e o desapego material para atingir o conhecimento.
Os hinduístas distinguem quatro metas na vida: dharma (condutas definidas, entre outros fatores, pela posição do indivíduo na sociedade), kama (prazer físico), artha (prosperidade) e maksha (iluminação). O dhama tem relação com quatro etapas da vida ou ashramas, do nascimento à morte: na infância (estudar os Vedas e preparar-se para a vida), na constituição da família (instrução dos filhos), na aposentadoria (desligar-se das posses materiais) e, na velhice (concentrar-se na busca religiosa).
Entre os milhares de deuses e deusas hindus, destacam-se Brahma, o princípio criador; Shiva, o princípio destruidor e libertador, e Vishnu, o princípio protetor e preservador. Sempre que o mundo está sob ameaça do mal, Vishnu aparece para protegê-lo. Até hoje ele teria tido nove reencarnações ou avatares, acreditam os adeptos do hinduísmo. O décimo avatar, Kalki, ainda está por vir para extirpar o mal.
Questões: (1) O que é hinduísmo? (2) Quem foi Gandhi? Qual foi a sua importância para o hinduísmo moderno? (3) Quais são os principais deuses e textos sagrados hindus? (4) Onde ficam localizados os adeptos do hinduísmo? (5) Como funciona o sistema de castas hindu?
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BUDISMO
O budismo nasceu na Índia com o príncipe hindu Sidhartha Gautama (o iluminado, Buda). A história conta que ele buscou a sabedoria em várias fontes até que se cansou e, ao encontrar uma figueira, disse que ficaria ali meditando até alcançar as quatro verdades. Para Buda: (1) a vida é dor; (2) a dor provém do desejo de experiências do corpo; e (3) pode ser anulada, assim como a ilusão que constitui o mundo (nirvana).
Buda é venerado como um guia espiritual, e não como um deus. Essa distinção é importante, pois permite a seus seguidores conviver com outras crenças e continuar seguindo os preceitos de Buda. Entre todas as grandes religiões do mundo, a budista é considerada a mais flexível e pacifista, uma vez que jamais recorreu à força para impor ou conquistar adeptos.
Por isso superar o sofrimento, Buda recomenda o meio-caminho. Esta última verdade é o sagrado caminho das oito vias: (1) fé pura, aceitar a verdade como um guia; (2) vontade pura, nunca fazer dano a nenhuma criatura; (3) palavra pura, nunca mentir ou difamar alguém; (4) ação pura, nunca fazer nada de que uma pessoa possa mais tarde arrepender-se, matar ou roubar; (5) meios de existência, não escolher uma ocupação que seja má; (6) atenção pura, procurar sempre o que é bom e afastar-se do que é mal; (7) memória pura, não se permitir pensamentos que estejam dominados pela alegria ou pela tristeza; (8) meditação pura, cumprir rigorosamente as regras anteriores visando a paz perfeita.
Como vivia na índia no século VI a.C., Buda convivia constantemente com as crenças hindus, das quais criticou os deuses e o sistema de castas. Os ensinamentos têm como base o preceito hinduísta do samsara, segundo o qual o ser humano está destinado a reencarnar infinitamente após cada morte e a enfrentar os sofrimentos do mundo. Os atos praticados em cada reencarnação definem a condição de cada pessoa na vida futura, preceito conhecido como carma.
O budismo divide-se em duas grandes linhas filosóficas, a Theravada e a Mahayana. A primeira, mais antiga, predomina em países do sul da Ásia. Da segunda fazem parte as formas budistas hoje mais divulgadas no Ocidente: o budismo tibetano e o zen-budismo. No Tibete o Budismo misturou-se com concepções totêmicas e animistas, o Lamaísmo. Buda é considerado como encarnado numa espécie de papa, Dalai-Lama, chefe de uma teocracia. Ao chegar ao Japão o Budismo torna-se Zen-Budismo.
O Brasil já tem mais de 250 mil praticantes, mas está longe de ser como a Tailândia, um país budista por excelência. Com 26 milhões de habitantes, a Tailândia tem 18 mil mosteiros e 240 mil monges. Estes a sós ou em grupos de dois, com a cabeça raspada, um manto cor de laranja, uma flor de loto na mão e pendurado ao braço um prato para esmola; deixam seu isolamento para entrar por momentos em contato com a sociedade. É o fiel quem agradece ao monge por ter aceito sua oferta, pois está dando-lhe os méritos de alcançar sua elevação. O monge é o último estágio antes do Nirvana.
Questões: (1) Quem foi Buda? Qual a sua história? (2) Por que Buda criticou o hinduísmo? (3) De que forma o budista expressa a sua religiosidade? (4) O que leva o budista a dizer que Buda não é deus? (5) Como é o sagrado caminho das oito vias?
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ATITUDES FILOSÓFICAS
Para Platão, pensador de Atenas no século V antes de Cristo, a primeira virtude de um filósofo é a capacidade de admirar, pois a admiração auxilia na capacidade de formular perguntas. Historicamente surgiram muitas correntes de pensamento sobre a questão do conhecimento religioso, tais como: teísmo, ateísmo, ceticismo e agnosticismo. A crença, a negação e a indiferença em relação à religião justificam algumas dessas atitudes filosóficas.
A postura proporcionalmente mais presente, o TEÍSMO, representa aqueles que expressam a fé religiosa. Por isso há o dogma (conhecimento inquestionável e verdadeiro) positivo em relação à espiritualidade. São teístas, por exemplo, os que defendem a existência de Deus.
Ao contrário do teísmo, o ATEÍSMO, é a corrente de pensamento dos que negam a necessidade de fé religiosa. Neste caso há o dogma oposto em relação à espiritualidade. Deus não existe para os ateus.
É muito fácil confundir o ateísmo com o CETICISMO. O cético, ao invés de negar, simplesmente duvida da necessidade de fé religiosa. A única certeza é que não há dogma. Se Deus existisse, por exemplo, o homem jamais poderia conhecê-lo. Deus e tudo mais é duvidoso.
Muito parecido com o cético é o agnóstico. Mas o AGNOSTICISMO se sustenta na existência de provas científicas significativas para acreditar, negar ou duvidar da necessidade de fé religiosa. O que não se pode provar cientificamente, não merece juízo de existência ou não. Não se pode descartar a hipótese de que Deus exista, bem como de que não há Deus. A fé é um mistério.
Existem ainda inúmeras outras formas de encarar o problema da fé religiosa. A pergunta que vem naturalmente é: quem está com a verdade? Seguindo o que diz Platão, a verdade se descobre perguntando, refletindo. Primeiro é preciso que se vá até as raízes da questão, seus fundamentos, ao mais profundo. Depois, faz-se necessário proceder com rigor, criticamente, através de uma seqüência lógica. Finalmente, examina-se o problema relacionando-o com os demais aspectos em que está inserido. A reflexão é radical, rigorosa e abrangente.
Questões: (1) Por que é importante admirar? (2) O que é teísmo? (3) Como os dogmas aparecem no teísmo e ateísmo? (4) Qual a relação entre ceticismo e agnosticismo? (5) Por que a reflexão que fazemos nem sempre é filosófica?
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RELIGIÃO E CIÊNCIA
O conflito entre religião e ciência reaparece, sobretudo quanto à interpretação da origem, natureza e destino do homem, assim como a diferentes cosmogonias. Cada avanço da ciência e a correspondente racionalização e dessacralização do pensamento fortaleciam o processo de secularização, pelo qual o homem se liberta do controle do pensamento religioso. Duas descobertas científicas – a de Copérnico e Darwin – perturbaram os adeptos da ortodoxia religiosa. Copérnico transformou a imagem do universo medieval, que tinha a Terra por centro, e Darwin aboliu a fronteira entre os animais e o homem, retirando a este último o lugar de glória e de privilégio que a religião lhe tinha conferido.
No século XIX o conflito religião-ciência volta a consistir no centro de uma série de polêmicas. Os resultados de pesquisas arqueológicas afetam as cronologias bíblicas e, em conseqüência, os métodos de estudo do Antigo e do Novo Testamento. Outro tema de polêmicas são as conseqüências da teoria de Darwin sobre a origem do homem e as teorias no campo filosófico e econômico (Marx, Engels) e da psicologia (Freud). No século XX, o processo de secularização avança, mas, paradoxalmente, cresce a religiosidade popular.
Consideram-se as religiões como resultados de meras necessidades de explicação. A evolução da matéria não depende de nenhuma força inicial, mas é um acidente, onde o acaso e a necessidade, depois, determinam os fenômenos da vida. O teólogo protestante Dietrich Bonhoeffer compreende religião como sistema de explicações, mas no sentido de complemento daquilo que a ciência não pode dizer. A religião aparece onde a razão é insuficiente. A compreensão do mundo está dividida entre o conhecimento científico das causas e dos efeitos e o conhecimento religioso, no qual um deus preenche o incognoscível.
No ocidente a Igreja Católica, a partir de Pio XII, vem afirmando claramente a possibilidade de uma harmonia entre a religião e a ciência. Em suas radiomensagens o papa abordou diversas vezes este problema, mostrando a necessidade de compor uma relação de complementaridade entre os dados científicos e o pensamento religioso. O Concílio Vaticano II, em sua constituição tomou uma posição definida na defesa de um encontro benéfico entre a ciência e a religião. Relembrou os princípios da razão humana que, devidamente esclarecida, se torna capaz de abranger o mundo das conquistas científicas e as realidades da vida religiosa.
Questões: (1) Como se dão os conflitos envolvendo religião e ciência? (2) O que representaram para o pensamento religioso as teorias de Copérnico e Darwin? (3) Que outras teorias polemizaram religião e ciência no século XX? (4) Como a Igreja Católica encarou o avanço da ciência no Concílio Vaticano II? (5) Em que ponto é possível conciliar religião e ciência?
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GEOGRAFIA DAS RELIGIÕES MUNDIAIS
Cada religião ocupa uma área determinada no espaço geográfico. Aliás, o lugar é um determinante fundamental das características do grupo religioso. Dependendo o país, o próprio cristão vai ter crenças e costumes diferentes. O catolicismo brasileiro, por exemplo, é diferente do catolicismo italiano, norte-americano, ou chinês. Dentro do próprio país a religiosidade varia de região para região. É o que acontece com os devotos do padre Cícero, que estão mais concentrados no Nordeste, enquanto que a maioria dos devotos de Santa Paulina estão no Sul.
Um outro exemplo é o homem da cidade em comparação com o interior. Sua fé é diferente justamente pelas características da vida urbana, principalmente o critério de novidade, enquanto o interior apresenta maior apego às tradições e resistência ao diferente. Em grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro os novos movimentos religiosos erguem enormes edifícios para acomodar seu público. O apelo de religiosos no rádio e tv é outra característica muito comum do meio urbano, apesar de que no interior o rádio é bastante utilizado. Só em São Paulo os religiosos detêm mais da metade das emissoras de rádio.
Há religiões, entretanto, que só existem num determinado lugar. O hinduísmo concentra-se quase que totalmente na Índia e o judaísmo em Israel. Isso acontece porque para seguir o hinduísmo precisa descender do povo hindu, habitantes da índia, da mesma forma que no judaísmo só se admitem judeus, filhos de israelitas ou nascidos em Israel.
Em relação à composição geográfica das religiões há curiosidades. O Islamismo, que nasceu no Oriente Médio, apresenta maior crescimento justamente no Continente Africano em países como Marrocos, Egito, Líbia, entre outros. E nem se fala de Turquia, Afeganistão, Iraque, Emirados Árabes, Arábia Saudita, Irã, entre outros, que apresentam quase cem por cento da população professando a fé islâmica.
O próprio Budismo, que nasceu na Índia, também se espalhou e hoje predomina mais em países orientais como Japão, China, Tibete, Nepal, Coréia, Tailândia. A China e a Rússia, que com seu comunismo tentaram impor um ateísmo de Estado para a população e resistir pessimistamente à religião, hoje convivem com o enraizamento do Confucionismo e do Catolicismo Ortodoxo, respectivamente.
Por fim, as religiões tribais, presentes em bom número na América, África, Ásia e Oceania amargam a imposição das outras religiões que, aos poucos, vai tomando conta dos países. Os índios brasileiros e os aborígines da Austrália e Nova Zelândia são exemplos disso. Hoje dos milhões que habitavam o país, restam pouco mais de 300 mil índios no Brasil e a população aborígine do continente australiano também está bem reduzida. A explicação do conquistador europeu era clara: os indígenas são um povo inferior e atrasado, portanto, sua cultura precisa ser eliminada.
Questões: (1) Como o lugar pode ser fundamental para determinar as características do grupo religioso? (2) Que diferença pode haver entre a religiosidade expressa pelo homem da cidade e do campo? (3) Por que hinduísmo e judaísmo estão concentrados mais num único lugar? (4) Qual foi o grupo religioso que mais expandiu sua área de abrangência mundial? Justifique. (5) Que problemas enfrentam as religiões tribais?
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CRIACIONISMO X EVOLUCIONISMO
O homem surgiu na África e tem parentesco com gorilas, dizem os evolucionistas. Essa também é parte da famosa Teoria da Evolução das Espécies, conhecida como evolucionismo, ou darwinismo, por ser de autoria do naturalista inglês Charles Darwin em 1871, e está publicado no livro "A descendência do homem". Essas declarações, de imediato, causaram um mal estar generalizado em todo o mundo, já que a tradição religiosa sempre afirmou que o homem e o mundo foram criados.
Para os antropólogos há várias categorias de homem. O atual, ou hominídio moderno, é homo sapiens (200 mil anos), mas antes deles existiram Australopithecus ramidus (o mais antigo fóssil, 4,4 milhões de anos), Australopithecus afarensis (3,6 milhões de anos), Homo habilis (2,5 milhões de anos), Homo erectus (2 milhões de anos), entre outros.
Outro argumento a favor do evolucionismo é a proximidade entre a característica genética dos chimpanzés com os homínídios. Os cientistas constataram que 98 por cento do material genético é idêntico ao de um ser humano. A primeira característica que teria "separado" homens e macacos, dizem, é a habilidade humana em ser bípede, quer dizer, andar com os dois pés. Com as mãos livres, os homens evoluíram no feitio de tarefas mais complexas, como comer, carregar objetos, etc.
Para barrar a teoria, as comunidades eclesiásticas em todo mundo fizeram o que estava ao seu alcance, até mesmo proibir esse assunto no currículo de suas escolas. Escolas confessionais nos Estados Unidos ainda hoje se orgulham com isso. Mas a polêmica aumentou ainda mais com o surgimento de uma terceira via, também na América do Norte, de um grupo de cientistas que, apontando falhas do evolucionismo, defendeu uma corrente rapidamente chamada de Criacionismo.
Os criacionistas não afirmam que o universo foi criado por Deus, Alá, ou pelo Transcendente, etc., como fazem os cristãos, islâmicos e outras religiões, apenas apontam evidencias de uma criação. A velha frase "do nada nada vem", tão repetida pelos filósofos gregos da antiguidade é um forte argumento a favor do criacionismo.
Para jogar uma água fria nos ânimos desses adeptos da cosmologia (estudo da origem do cosmos), os budistas, hindus e outras tradições orientais, chegaram a uma conclusão: é uma perca de tempo. Segundo eles, o conhecimento da origem leva necessariamente a dúvidas de onde estaria uma origem da origem. Assim, para fugir de um questionamento em círculos, as tradições orientais dizem que não é permitido aos homens saber o início das coisas.
Do lado dos cristãos há uma tentativa de harmonizar os estudos científicos com os dogmas religiosos. Desde o papa Pio XII a Igreja Católica adota essa política de aproximação. Alguns teólogos protestantes afirmam que a religião explica as questões dos campos que a ciência não consegue atuar, ou seja, uma aparece em complemento da outra.
Questões: (1) Qual foi o impacto das declarações de Darwin? (2) Quais são os principais argumentos a favor do evolucionismo? (3) Como as comunidades eclesiais resistem ao evolucionismo? (4) O que é criacionismo? (5) De que forma as tradições orientais se posicionam diante da cosmologia? (6) Que argumentos a Igreja Católica utiliza para aproximar-se da comunidade científica?
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RESSURREIÇÃO X REENCARNAÇÃO
Há basicamente quatro respostas para a vida além morte que dividem religiosos, cientistas e pessoas comuns: a ressurreição, a reencarnação, a ancestralidade e o nada. Bem, o que significa tudo isso? Primeiro que o homem não consegue conviver com a dúvida. É pensando sobre seus problemas que a humanidade sai do lugar, caminha, nem sempre para frente, mas está no íntimo do homem fazer qualquer movimento desde que não seja ficar parado, em dúvida.
A vida após a morte do ponto de vista da ressurreição é uma alternativa dada pelos cristãos, muçulmanos e judeus. Acreditam na existência de uma alma (ou espírito) que deixaria o corpo após a morte aguardando um momento para voltar e reviver num lugar diretamente, proporcional às suas atitudes enquanto vivo. Se foi bom, reviverá bem, se mal, sofrerá as conseqüências de sua maldade. Segundo os cristãos, Jesus teria sido morto e ao terceiro dia ressuscitado. A vida em um paraíso, céu, lugar de descanso, etc., é uma recompensa para aqueles que se mantiverem fiéis à sua crença.
Na reencarnação, entretanto, a solução encontrada foi pensar que as pessoas não nascem e morrem, mas encarnam e desencarnam. Os orientais, hindus e budistas, por exemplo, acreditam que a vida é um círculo de sucessivas reencarnações. No budismo cabe às pessoas atingirem o nirvana (interromper as reencarnações) com a busca da iluminação. No Brasil o principal divulgador da reencarnação é o espiritismo. O propósito, assim, é permitir que as pessoas más paguem com o sofrimento de uma outra reencarnação pelos atos que praticaram na vida anterior. É o Karma.
Numa terceira via, os índios e alguns povos antigos recorrem à ancestralidade como explicação para vida após a morte. Como ancestralidade está a crença de que os mortos virariam espécies de deuses que protegem a vida de pessoas próximas. Entre os gregos antigos, por exemplo, era feito um altar nas casas no qual se acendia fogo aos deuses "domésticos", exclusivos daquela família. Com o passar do tempo, os deuses das famílias mais ricas e numerosas foram ficando populares e ganharam festas públicas e títulos de deuses oficiais das cidades.
Por fim, menos numerosa, mas em constante crescimento, vem a crença de materialistas e ateus no Nada. São críticos das três respostas anteriores. Dizem que não há separação entre o corpo e alma, são os dois uma única coisa. Assim, ao morrer, o corpo se desfaz no túmulo e a vida acaba. A vida após a morte para os adeptos do "nada" é a estratégia de alienação, controle, das pessoas mais simples e ignorantes feita pelos mais ricos e pelas elites sacerdotais dominantes.
Questões: (1) Quais as respostas mais conhecidas para a possibilidade de vida após a morte? (2) Quem são e o que defendem os adeptos da ressurreição? (3) Por que o exemplos de Jesus é tão importante aos cristãos? (4) Como os reencarnacionistas expressam sua religiosidade? (5) O que quer dizer a busca da iluminação no budismo? (6) O que é ancestralidade? (7) Como surgiam os deuses gregos? (8) O que defendem os materialistas e ateus em relação à vida após a morte?
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SUPERSTIÇÃO X CIÊNCIA
Os conhecimentos que surgem da mera generalização, opinião ou crença, sem a devida comprovação, os cientistas costumam chamar de superstição. Por conta da credibilidade os teóricos fazem um grande esforço no sentido de evitar cair neste tipo de categoria. Para a cientista a explicação supersticiosa não chega a ser apenas uma questão de concorrência. Mais atrativa nas camadas populares e costuma ganhar força rapidamente e tomar o lugar da própria ciência. Parapsicologia e astrologia, por exemplo, fariam parte desta tendência. A confusão surge por uma questão de método. Alguns adeptos da ciência tradicional afirmam que essas áreas não podem ser ciência uma vez que falam de verdades sem provas. Tanto os parapsicólogos como os astrólogos promoveriam um saber baseado apenas na interpretação pessoal, na opinião.
No caso da parapsicologia, estaria faltando maior comprovação na análise dos fenômenos de aparência paranormal, ou seja, os fenômenos considerados à margem da psicologia convencional, tradicional. Espontaneamente, voluntariamente e sem condição de controle, os indivíduos produziriam fenômenos ainda inexplicáveis como: premonição, movimento de objetos, produção de ruídos e incêndios, telepatia, etc. Apesar de muitos argumentos favoráveis e do crescimento constante do número de interessados no assunto, a parapsicologia não consegue uma aceitação geral dentro da psicologia e de outros ramos da ciência.
Os parapsicólogos se defendem das críticas e não aceitam a parapsicologia dentro da categoria de superstição. Dizem que o meio científico, principalmente a universidade, não se dedica a explorar melhor os fenômenos que a parapsicologia considera naturais só por não serem comuns e não possuírem explicação imediata. A falta de investimentos e de estudos seriam as causas da aparente desinformação e superstição dentro da parapsicologia, defendem.
A astrologia segue o mesmo caminho. Baseado na influência dos astros sobre os seres humanos, os astrólogos escrevem diariamente inúmeros horóscopos em todo o mundo. Dizem os cientistas, principalmente os astrônomos, que essa previsão baseada nos astros não pode ser certa, pois depende unicamente da opinião do astrólogo quando este "interpreta" os dados que os astros fornecem.
No meio de tanta briga acadêmica os críticos esquecem de considerar, segundo os astrólogos, o mérito da relevância social desses estudos, já que oferecem um sentido de existência às pessoas que a eles aderem. Quando a astrologia consegue fazer alguém satisfeito com uma resposta dada pelos astros, por exemplo, estaria contribuindo para a estabilidade emocional da pessoa.
Questões: (1) O que é superstição? (2) Por que a ciência se preocupa com as explicações supersticiosas? (3) Que dúvidas a comunidade científica lança sobre a validade das explicações da parapsicologia? (4) Como a parapsicologia reage aos seus opositores? (5) Por que a astrologia também não é considerada uma ciência? (6) De que forma os astrólogos dizem contribuir com a sociedade?
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MITO E RELIGIÃO
Tão importante quanto definir o mito é dizer o que ele não é. Existe quem confunde essa forma de explicação da realidade com idéias do tipo fábula, lenda, invenção, ficção, fantasia, etc. Também pelo fato das culturas primitivas não terem acesso às facilidades que possuímos atualmente, as pessoas acham-se na condição de impor uma imagem inferior aos mitos desse período como coisa arcaica, ultrapassada.
Na verdade mito é apenas um relato de um acontecimento, uma história verdadeira ligada a uma experiência religiosa. Mito é ainda uma representação coletiva, transmitida através de várias gerações e que relata uma explicação do mundo. O ritual religioso surge, assim, da ação de um conjunto de mitos.
Inconscientemente os adeptos das religiões reconhecem cinco características nos mitos: (a) Ele é real - apresenta-se como uma revelação; (b) Eterno - está no tempo sagrado; (c) Sagrado - relata obras divinas; (d) Exemplar - traz modelo de comportamentos humanos; (e) Transpessoal - não tem autor.
Os mitos respondem, portanto, às perguntas mais básicas das pessoas como origem e morte, o mundo e as forças naturais, a sexualidade, a guerra e o destino humano. Eles estão presentes nas religiões, pois servem para expressar o sentido da existência em forma imaginária, indireta. A profundidade dessas respostas equivale à filosofia e à poesia.
Antes da filosofia, ciência e arte, o mito era a única forma de explicar a realidade. A profundidade das narrativas exige capacidade de interpretação, de sair das aparências para buscar os significados das coisas. Em outras palavras, o mito é uma verdade que esconde outra verdade.
Questões: (1) Por que mito não é fantasia? (2) Que relações existem entre mito e religião? (3) Como se explicam as cinco características de um mito? (4) Qual a importância dos mitos para a ciência? (5) O que quer dizer "verdade que esconde outra verdade”?
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TEXTOS SAGRADOS
Apesar da escrita só surgir há cerca de seis mil anos, segundo o que dizem os arqueólogos, acredita-se que bem antes (aproximadamente 150 mil anos) o homem já encontrava recursos de linguagem para se comunicar e, conseqüentemente, viver melhor. Essa crença de uma comunicação tão antiga do homem alimenta outra discussão no campo da ciência da religião: os textos sagrados.
Escrevendo ou não, o homem precisa representar de algum modo sua ligação com o transcendente. Disso vai depender a orientação da comunidade de homens mais primitivos sobre a vida espiritual, social, pessoal, etc. Por exemplo, há 17 mil anos, avaliam os arqueólogos, foram feitas pinturas rupestres (animais, setas, etc.) na caverna francesa de Lascaux por homens que, entre outras coisas, se organizavam com vistas ao desenvolvimento das técnicas de sobrevivência e relação com o seu meio. Desde essa época já se pode comprovar que o homem tinha inteligência para uma comunicação artística, simbólica.
Mas, apensar de ser mais difícil de comprovar, uma tradição oral também é previsível em casos de sistemas religiosos muito antigos, ou primitivos. Uma projeção faz crer que os cultos religiosos foram por muito tempo completamente falados. Isso acontece com os índios, por exemplo, e até mesmo no cristianismo do início da era cristã, quando os primeiros cristãos se reuniam.
Na tradição oral não há regras rígidas e sua durabilidade é relativa, pois está baseada na memória dos participantes e depende muito da pessoa que fala. O processo que segue a tradição oral é a tendência de institucionalização do culto com a criação das igrejas, templos, religiões e os textos ou livros sagrados. No judaísmo há a Tora, no cristianismo a Bíblia Sagrada e no islamismo foi escrito o Alcorão, os mais conhecidos no Brasil. Além deles há os Vedas, do hinduísmo, e muitos outros.
A Tora está escrita em hebraico e aramaico e é o mais antigo em relação à Bíblia (hebraico, aramaico e grego) e ao Alcorão (árabe). Seus livros correspondem e deram origem ao Antigo Testamento da Bíblia. O livro dos cristãos, por sua vez, apresenta duas versões, a católica e a protestante. A primeira é sete livros maior que a segunda. Por isso a verão protestante contém 66 livros, 39 no Antigo Testamento e 27 no Novo Testamento. Em relação à divindade das escrituras, tanto os cristãos como os judeus afirmam que seu livro tem Deus por autor e que esses escritos têm por finalidade a salvação dos homens e por conteúdo a verdade.
Já o Alcorão, ou simplesmente Corão, é o livro mais recente. Essa palavra pode ser traduzida literalmente por "recitação", "lição", "leitura". O livro compõe-se de 114 suratas (capítulos) e foi revelado pelo anjo Gabriel, que teria ditado palavra por palavra ao profeta Mohamed (Maomé). Para quem é islâmico, o Alcorão não é apenas religioso, mas serve como orientação para as instituições civis e inspiração para os governos e a política como um todo.
Questões: (1) Por que a comunicação é tão importante para o homem? (2) Como os primeiros homens expressavam sua ligação com o transcendente? (3) Quais as principais características da tradição religiosa oral? (4) O que leva as religiões a escreverem seus livros? (5) Que semelhanças há entre o livro sagrado cristão e o judaico? (6) Que diferença há entre a bíblia católica e protestante? (7) Como surgiu o Alcorão e qual a sua importância dentro do islamismo?
Diversidade religiosa
O Ensino Religioso, disciplina escolar, desenvolve-se como uma área de conhecimento que recobre uma das manifestações mais antigas, diversificadas e ricas dos seres e dos grupos humanos: o fenômeno religioso. Tal é sua diversidade, porém, que uma das grandes tentações do professor de Ensino Religioso seria pretender classificar todas as expressões religiosas num determinado gênero, as religiões, por exemplo. E, ainda, considerar que sua disciplina, como outros setores das ciências humanas, deve-se ocupar unicamente do que é comum a todas as religiões, deixando de lado o específico de cada religião, para não correr o risco de proselitismo.
Em termos técnicos, desde que no século 19 tomou-se consciência da diversidade religiosa, que viu nascer o estudo comparativo das religiões, a expressão fenômeno religioso passou a ter um valor transcendental ou analógico, designando formas substancialmente diversa do ser humano responder por ritos e mitos, ao anseio de transcendência inscrito no fundo de si mesmo.
A opção de falar das religiões como se fosse um gênero, buscando o que seria comum a todas elas, além de pouco científica, desconhece a realidade dos fatos. Pouco científica porque hoje, mais do que nunca, valoriza-se a ciência capaz de captar a diversidade existente no seu campo de observação e de estudo. Desconhece a realidade dos fatos porque, como demonstram inúmeros exemplos práticos, operaria um verdadeiro nivelamento por baixo, levantando a suspeita de que o Ensino Religioso """ tende a esvaziar cada uma das religiões no que tem de próprio e de específico, era favor de uma religiosidade genérica e de uma espiritualidade politicamente correta talvez, mas superficial e desconhecedora do vigor da fé.
Não se pode negar que a fé, quando autêntica, está na gênese de todos os ritos, dos mitos, das práticas e das instituições religiosas, pois é ela que sustenta a vida, muito mais do que uma simples religiosidade genérica. É a fé que anima a atividade dos verdadeiros religiosos, a começar pelos que estão dispostos a dar a vida pelo que acreditam, sem que possam ser acusados de fanatismo, como os mártires, encontrados em todas as tradições religiosas, das origens cristãs ao holocausto, sem menosprezar a qualidade moral e espiritual de suas muitas manifestações freqüentem ente classificadas de fanatismo.
Significados diversos
Ao falarmos, por exemplo, de textos sagrados, é preciso ter a consciência clara de que não se trata de um gênero literário em que se classificariam todos os textos que falam do que dá sentido à vida, da sabedoria, da espiritualidade, de Deus ou com Deus. Nada impede que a História e a Literatura, a Psicologia e a Sociologia os estudem dos seus respectivos pontos de vista, mas o Ensino Religioso, a nosso ver, dada a originalidade do fenômeno religioso, não pode ser refém das ciências humanas. O conhecimento a ser transmitido em sala de aula requer a percepção do que toma sagrado o texto para as diversas religiões, surgindo, já aqui, uma diferença profunda entre as religiões proféticas, como as abraâmicas Gudaísmo, cristianismo e islamismo), por exemplo, as místicas (budismo, hinduísmo), as sapienciais (taoísmo, confucionismo) e as "naturais", por assim dizer, em geral, privada de textos, como as xamânicas, negras e indígenas.
O primeiro cuidado na interpretação de um texto sagrado é de situá-Io no contexto da religião que o considera tal, sem o que sua leitura se limitaria aos aspectos genéricos, históricos, literários, psicológicos ou sociológicos de qualquer outro texto, deixando-se escapar o que o caracteriza como texto sagrado, nA sua diferença específica.
Isso não quer dizer que o específico de uma religião seja exclusivo dos demais aspectos que integram o fenômeno religioso, pois a religião, como todas as realidades culturais humanas, são construtos complexos, compostos de elementos vários, que contribuem para identificá-Ios, sem que sejam todos determinantes de sua especificidade. Assim, pela análise do fenômeno religioso, somos levados a identificar, em todas as religiões, elementos como ritos, mitos, exigências morais e práticas institucionais, associados entre si em diversas medidas, como expressões do que dá sentido à vida, da relação dos humanos com a transcendência. Exemplificando, as imagens, veneradas das maneiras mais diversas nas várias religiões, têm em cada uma delas um sentido específico, expressão da fé que a anima, cuja fé, aliás, pode até animar a proibição ou rejeição das imagens. Sua importância religiosa, de fato, não depende de si mesmas, mas da forma como são entendidas, acolhidas ou rejeitadas. O mesmo acontece, analogamente, com os textos sagrados, que têm significações muito diversas nas várias tradições religiosas.
Textos revelados
Para ficarmos, porém, no âmbito das religiões abraâmicas - judaísmo, cristianismo e islamismo -, que estatisticamente se impõem na nossa tradição cultural, apesar dos importantes aportes das religiões negras e indígenas, e, nos dias de hoje, a crescente influência espiritual do hinduísmo, budismo e mesmo de tradições sapienciais, é indispensável ter presente que para essas religiões os textos sagrados são textos revelados. Isto é, só podem ser entendidos, do seu ponto de vista, como portadores de uma mensagem, que não tem sua origem na própria religiosidade nem na sabedoria humana, mas foram comunicados pela realidade primeira, a que denominamos Deus. Há, contudo, mesmo no seio dessas religiões classificadas como proféticas, uma diferença profunda na maneira como judaísmo, cristianismo e islamismo entendem a revelação.
Diferentemente das duas outras religiões abraâmicas, o cristianismo, sobretudo na sua expressão católica, não vê no texto a simples Palavra de Deus, mas uma palavra humana que é expressão de como a intervenção de Deus na História foi interpretada autenticamente pelo autor sagrado, animado pelo Espírito de Deus. A grande e definitiva comunicação de Deus, de sua Palavra, é o Cristo Jesus, Palavra de Deus encarnada. Mas os textos sagrados, inclusive a respeito de Jesus, são frutos da experiência religiosa das primeiras comunidades cristãs e foram escritos por autores inspirados por Deus e reconhecidos como tais pela comunidade cristã, a Igreja.
Ao abordar a Tora, a Bíblia ou o Corão, o professor de Ensino Religioso precisa pôr em foco essa especificidade e encontrar uma forma de assinalá-Ia no concerto dos mais variados textos sagrados, a que o aluno tem o direito de ter acesso, com o instrumental necessário para os interpretar corretamente.
Texto no contexto
No seio da comunidade de fé, compreende-se que a Bíblia seja lida como Palavra de Deus, pois, graças à fé, ela representa de fato a ação criadora e santificadora de Deus na vida das pessoas e da comunidade: mostra o caminho a seguir, sustenta a esperança e alimenta o amor com que somos amados e que somos provocados a corresponder, em relação a Deus e no convívio com o próximo. No Ensino Religioso escolar, porém, com a mudança da perspectiva determinante da disciplina, parece-nos indispensável que o texto bíblico, por exemplo, seja abordado como texto sagrado e revelado, sem dúvida, mas histórica e literariamente situado no contexto da tradição cultural de que emana como expressão da religiosidade de um povo e de uma época.
A laicidade que se definia até bem pouco tempo como negação ou desconhecimento da religião, noção que ainda persiste nos meios universitários e oficiais. e que parece estar no fundo das resistências ao Ensino Religioso nas escolas, era de fato negadora do alcance transcendente efetivo da vida humana, pessoal e social, concebendo-o, quando muito, como um universo de valores éticos, artísticos ou literários, a serem mais ou menos levados em consideração na atividade concreta ou na organização social e política das comunidades humanas. Tal atitude considerará os textos sagrados na sua qualidade ética, artística ou poética, nunca, porém, propriamente como sagrados.
O Ensino Religioso vai além. Sem negar a vinculação de tais textos ao seu contexto cultural, nem sua significação histórica, literária ou ética, precisa identificar a relação do texto sagrado com o Absoluto, com a atitude pessoal profunda, atitude de fé, num sentido genérico, de que a religião e, portanto, o texto sagrado é expressão, dentro da maneira de entender a relação com o Absoluto na tradição em que este texto veio a se constituir ou foi escrito. Em outras palavras, o estudo dos textos sagrados no Ensino Religioso é um dos caminhos privilegiados de acesso ao que há de mais específico em cada religião. Daí sua importância no Ensino Religioso.
O estudo dos textos sagrados não exclui sua análise histórico-literária, pelo contrário, deve estabelecê-Ia o mais firmemente possível para que se tome manifesta sua consistência própria como sagrados ou mesmo, nos casos de figura, como revelados.
A qualidade do Ensino Religioso leigo, sem proselitismo, mas também sem desconhecimento do que cada religião tem de específico, requer a interpretação crítica, mas integral, do que significam os textos com que se alimenta cada religião na sua especificidade.
Observação: Artigo tirado da revista Diálogo - Paulinas - N° 35, agosto de 2004.
Francisco Catão - Doutor em Teologia, professor do Instituto Pio XI, em São Paulo (SP), autor da coleção didática para o Ensino Religioso Convivência e Liberdade.
O fenômeno religioso em tempos pós-modernos
Filosofar é um exercício de reflexão. Como o ramo da roseira carregado de flor se curva (reflete) até tocar o solo c as raizes, assim o pensar e o ser recurvam-se sobre si, revisitam e reencontram as suas fontes e emergem mais seguros na direção do agir. Trabalhar com a infância, a adolescência e a juventude sobre o fenômeno religioso requer sobremaneira esse reencontro (re-flexão) com as fontes, um revisitar a mim mesmo, o outro, a sociedade, o mundo a partir do nosso lugar e do nosso tempo.Tempos pós-modernos, espaço Brasil. Já escrevi em outro texto mais amplo sobre as religiões e o sagrado nas encruzilhadas da pós-modernidade. Retomo aqui os tópicos mais relevantes. .
Novas relações de produção e consumo
O pós-moderno não se define como uma nova era que suplanta e sepulta a modernidade. É um tempo de transição, de busca e de incertezas, de problemas e de interrogações, muito mais do que de respostas. A estrutura fundamental econômica, social, política e cultural da era moderna, que recebe o nome de capitalismo tardio ou neoliberalismo, ainda persiste, mas vão emergindo situações novas, um clima diferente de viver e pensar, chamado por isso de pós-moderno.
Os últimos 50 anos assinalam a chegada do pós-moderno e apresentam no campo da economia um aspecto novo, ou seja, a produção em grande escala de bens não duráveis ou descartáveis. Milhões de marcas vão sendo reproduzidas e substituídas por objetos e modelos novos, que o mercado faz envelhecer e toma obsoletos em curto prazo, alimentando o ritmo perpétuo de produzir, vender, consumir, reproduzir. Por essa característica, define-se o pós-moderno como uma sociedade de consumo ou um sistema de objetos e a velocidade, a transitoriedade e a descartabilidade são os seus vestígios mais acentuados.
Sonho e realidade
A expansão da sociedade dos objetos nos últimos decênios deu asas ao sonho neoliberal de transformar o mundo em um imenso supermercado global; a tecnologia avançada, que alguns autores denominam de teletecnociência, garantiria a produção infinita de mercadorias e o mercado, regido pela competição livre e sem fronteiras (globalização), asseguraria a nova ordem mundial, a paz e a felicidade. Nesse sonho foram envolvidas e abandonadas outras alternativas de sociedade. O comunismo desapareceu e as sociedades mais tradicionais, que ainda conservavam um modo de produção quase tribal, aderiram ao sistema dos objetos. Todavia, em lugar da prometida felicidade, agravaram-se os problemas da humanidade, e os contrastes se tomaram mais agudos. .
A teletecnociência garante com certeza uma produção ilimitada de objetos de consumo, mas, em contrapartida, a pobreza, a fome cresce assustadoramente em todos os cantos da terra, principalmente na periferia do mundo rico. A força do trabalho perde espaço para a automação e a especialização crescente e isso vem produzindo uma multidão de desempregados, subempregados e excluídos. Os países pobres se tornam cada vei mais pobres e desprovidos dos recursos essenciais. Em vez da paz mundial, a guerra, a violência, o crime, o terrorismo, o genocídio, a corrupção atormentam a humanidade e apontam o fracasso da promessa neoliberal.
A religiosidade na sociedade pós-moderna
Ao refletir sobre o fenômeno religioso, e preciso ver essas marcas da pósmodernidade espelhadas no rosto da criança, do adolescente, do.jovem com quem você, educadora e educador, vai conversar sobre religião. Deus, deuses, santos, anjos, espíritos, rezas, ritos, festas, enfim, sobre as interfaces do sagrado, que constituem a constelação religiosa da atualidade.
Nos olhares que revelam um misto de alegria e tristeza, você pode notar a transitoriedade, a descartabilidade, o ritmo veloz e instável da sociedade dos objetos. É fácil constatar que um grande número de educandos vem de famílias cujos vínculos já estão destruídos ou se tomam cada vez mais tênues. Os compromissos tendem a ser instantâneos, da-se mais importância às experiências eróticas passageiras do que à amizade e ao amor duradouros. Você vai perceber situações precárias e, às vezes, desesperadoras de salário insuficiente, desemprego, doenças, violência, mortes prematuras e a angústia de uma vida sem expectativas, sem sonhos.
Por isso, não se admire se você constata nos educandos, cuja maioria se declara de religião católica,- uma grande variedade de tendências e fenômenos religiosos muitas vezes contraditórios, que seriam impensáveis há 50 anos atrás, mas agora fazem parte do clima pós-moderno: a fragilidade dos vínculos com a própria comunidade de fé, a passagem freqüente de um credo a outro, a facilidade em misturar .religiões formas de culto, atribuindo a todas igual valor e compondo, muitas vezes, com esses retalhos, uma forma própria de pensar e viver a religião.
Oposto a isso, não é raro notar posições fundamentalistas, radicais e ate discriminatórias como pessoas que afirmam com absoluta segurança: "único e verdadeiro é o meu Deus e a minha religião; o resto e falsidade". Verifica-se uma acolhida generalizada de novos misticismos, como magia, taro, astrologia, jogo de búzios, ocultismo, cristais. Há uma penetração muito vasta das novas formas do pentecostalismo protestante, do neo-pentecostalismo católico (Renovação Carismática).
O culto aos espíritos, a crença na reencarnação e na evolução espiritual, seja na linha kardecista, seja no contexto religioso sincrético das religiões afro-brasileiras, tem raízes profundas no imaginário do povo. Há manifestações de origem hinduísta, budista, neobudista, islâmica e judaica.
As devoções populares católicas recuperam um grande vigor, especialmente o culto e o apelo aos santos da aflição. É intensa a busca de milagres de cura, de prosperidade e de sorte. Superstições e crendices povoam as mentes. Grandes manifestações religiosas, romarias, concentrações, cultos públicos congregam milhares de pessoas em praças e estádios. Em síntese, no semblante da criança, do adolescente e do jovem, você pode enxergar um firmamento extremamente complexo no .qual as manifestações de religiosidade brilham como milhares de estrelas. .
Educação da religiosidade
Diante desse panorama, a reflexão filosófica e um convite a uma leitura interpretativa, a uma busca de sentido e de rumos para a ação educadora. Em primeiro lugar, você pode averiguar que, ao contrário das previsões de alguns intelectuais modernos e até famosos, Deus não foi embora e o sagrado permanece rico e sólido no contexto pós-moderno, apesar da avançadíssima tecnologia, do progresso das ciências e da expansão mundial da sociedade de consumo. No fundo do ser humano há algo misterioso, indecifrável e insondável, que o faz sentir-se criatura, limitado, dependente, que desperta sentimentos de veneração, de temor, mas a um tempo seduz, fascina, arrebata a alma em arroubos de amor e adoração, faz irromper a alegria em meio à angústia, a esperança no desespero e convoca para a festa e a celebração. Saber enxergar na constelação dos fenômenos religiosos vividos pelo educando a presença de um Ser além da criatura e do criado, o totalmente Outro, que se revela não apenas neste ou naquele texto ou tradição sagrada, mas sim num livro escrito antes dos tempos, antes das religiões estabelecidas e das revelações históricas, impresso'" em letras inefáveis, pois não há palavras adequadas para revelar o coração do Transcendente. Eis a sua, a nossa tarefa de educadores religiosos.
Em seguida, você pode descobrir na multiplicidade dos fenômenos, nesses retalhos do sagrado alguns roteiros para a ação. Reftro-me a certos princípios éticos fundamentais subjacentes e comuns a toda crença, que podem unir o que parece totalmente fragmentário. Quando a pessoa do educando revela no gesto e no olhar, mais que em palavras, a sua busca do sagrado, com certeza está _à procura de um meio de salvar a sua vida, de sobreviver em um mundo repleto de conflitos e incertezas; busca decifrar os mistérios do existir, reencontrar-se e encontrar Alguém em quem esperar incondicionalmente.
A força libertadora do sagrado
Quero aqui retomar uma palavra bastante desgastada nos últimos anos: libertação. Eu acredito na força libertadora do sagrado, que se espelha no rosto dos nossos educandos; acredito na coragem que o divino lhes inspira de se realizarem como pessoa, como participantes do futuro do mundo e da sociedade, conscientes do que é injusto e do que é opressor, decididos a mudar. Eu acredito que os nossos adolescentes _e jovens, para além das crenças e das religiões, que possam professar, e a partir do universo religioso em que vivem, têm condições de contribuir, com o entusiasmo e ardor que lhes é peculiar, para um grande projeto de ética mundial em vista da sobrevivência humana. Mas para isso é importante saber lidar com o fenômeno religioso. Você, educadora e educador, não precisa, nem deve abdicar da identidade de sua fé diante da constelação do sagrado que descrevemos. O que não se deve, e seria profundamente negativo, é voltar à antiga atitude de catequese, à pretensão de converter o educando para a sua religião. Convém buscar formas plurais de religiosidade muito mais o que une do que o que separa; combater os preconceitos e as discriminações, respeitar liberdade e incentivar ações concretas de promoção da justiça; despertar para a alegria, a esperança, a festa e afastar a angústia; promover não só a tolerância, mas também a igualdade na pluralidade; não só a coexistência, mas a construção da paz, da reciprocidade, da fraternidade e da solidariedade, de tal forma que as manifestações múltiplas do sagrado sejam também a revelação e a consolidação do humano, cada vez mais procurado e vivido nesta era de transição e incertezas, que chamamos de pós-modernidade.
Observação: Artigo tirado da revista Diálogo, n° 25, Paulinas, março de 2002.
José J.Queiroz - Mestre em Filosofia e doutor em Teologia e Direito. Professor de Filosofia na Universidade São Francisco, e no curso de mestrado de Ciências da Religião, na PUC-SR Autor dos livros Milenarismos e messianismos ontem e hoje, Loyola, 2001.
Ensino Religioso
A partir do processo constituinte de 1988, educadores/as de várias tradições religiosas constituíram o ensino religioso como uma “disciplina”. Não mais atuando em uma ou mais religiões, mas dentro da escola brasileira, buscaram assim desfazer o binômio ensino da religião-concessão do Estado, que caracterizou tal ensino ao longo da história do Brasil. Em 1997, foram publicados os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso, elaborado pelo Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso.
Conforme esses Parâmetros, a razão de ser do ensino religioso, como disciplina escolar, fundamenta-se na própria função da escola, qual seja, o conhecimento e o diálogo. Como espaço de construção e socialização dos conhecimentos produzidos, a escola também deve disponibilizar o conhecimento religioso a todos e todas que a ele queiram ter acesso, embora não seja sua função propor a adesão e a vivência de tal conhecimento enquanto princípio de conduta religiosa e confessional, já que esse princípio continua sendo atribuição de cada religião.
O objeto da disciplina ensino religioso é o “transcendente”. O homem finito, inconcluso, busca fora de si o desconhecido, o mistério: transcende. Como sistematização de uma das dimensões de relação do ser humano com essa realidade transcendental, o conhecimento religioso deve ficar ao lado de outras, colaborando para o aprofundamento da vida coletiva dos/as educandos/as e para vivência da autêntica cidadania. Articulados, em diálogo, esses conhecimentos poderiam explicar o significado da existência humana. Integrariam, dentro de uma visão de totalidade, os vários níveis de conhecimento que são responsabilidade da escola: o sensorial, o intuitivo, o afetivo, o racional e também o religioso.
Os objetivos do ensino religioso estão consubstanciados nos PCNs, em termos de eixos organizadores para os blocos de conteúdos, quais sejam: Culturas e tradições religiosas, Escrituras sagradas e/ou tradições orais, Teologias, Ritos e Ethos. Os conteúdos que compõem esses blocos são estabelecidos a partir da filosofia, história, sociologia, psicologia e tradição religiosa e por meio de conhecimentos advindos de tópicos como a revelação, as narrativas sagradas, a exegese, as verdades de fé, os rituais, os símbolos, as espiritualidades, a alteridade, os valores, os limites éticos, etc. O tratamento didático dos conteúdos realiza-se no nível da análise e conhecimento, na pluralidade cultural da sala de aula, salvaguardando, assim, a liberdade da expressão do educando.
Diante dessa proposta curricular, é possível problematizar o seguinte: seus conteúdos, seus objetivos e sua didática, organizados sob a forma de disciplina, podem ensinar “a experiência religiosa”? Essa “experiência” é “ensinável” como matéria escolar? É possível, desse modo, “ensinar” o “religioso”? Trata-se, nos PCNs, de ensino religioso ou do que poderia ser chamado de “ciências da religião”? A proposta do ensino religioso conseguirá, como currículo, transmitir o fenômeno religioso, o reconhecimento de expressão da força divina, que se define como sendo “a busca do Ser frente à ameaça do Não-ser”? A transformação do religioso em disciplina de conhecimento racional poderá “sensibilizar para o mistério, capacitar para a leitura da linguagem mítico-simbólica e para a passagem do psicossocial em direção à metafísica/transcendente”? Ou essa transformação – embora tenha sido política e estrategicamente importante para as confissões que a forjaram – inviabiliza, justo em função de ter feito da experiência religiosa uma “disciplina”, aquilo mesmo que se propôs a conquistar?
Ao optar por “ensinar” o ensino religioso no currículo, penso que podemos voltar-nos, um pouco que seja, para a genealogia do poder disciplinar, tal como legada pela produção do filósofo francês Michel Foucault. Então, indagar: o que faz uma disciplina? Como funciona?Quais são seus mecanismos, suas estratégias, suas tecnologias? Que efeitos produz, em termos de saber, poder, verdade, subjetivação? O que é isto de disciplina, disciplinizar, vivenciar uma “disciplina”, tornar-se um sujeito “disciplinado”?
Ora, a disciplina não pode ser identificada com um indivíduo, nem com um grupo, nem com uma instituição. Ela é mais do que isso. É um tipo de poder, uma forma de exercer o poder, de estabelecer relações de poder, que agrega todo um conjunto de instrumentos, técnicas, procedimentos, níveis de aplicação, alvos a atingir. Ela é, por excelência, a forma de poder das sociedades modernas.
Nessas sociedades, a disciplina impõe o seu funcionamento a muitas práticas, dentre as quais a pedagógica. A disciplina fabrica a pedagogia analítica da Modernidade. Uma pedagogia minuciosa, que decompõe os saberes e hierarquiza os sujeitos. A disciplina pedagógica especializa o tempo de formação das crianças, destacando-o do tempo adulto. Organiza diversos estágios, separados uns dos outros, por aquisições graduadas. Compõe exercícios de dificuldade crescente. Determina programas e condutas, técnicas normativas, formas de raciocínio, tipos de experiência, regulamentos, modos de governar e de existir.
Os indivíduos são postos “em ordem” pelo trabalho disciplinar. Previstos e controlados. Repartidos e classificados. Totalizados em um conjunto e individualizados para sua melhor produção. São objetivados, conhecidos, descritos. Assim, sujeitados, tornam-se sujeitos “à” e “da” disciplina. Têm seus espaços e tempos regulados. Os ritmos de suas aprendizagens determinados. Os movimentos de seus corpos monitorados. Ficam sujeitos aos outros, pela dependência, e presos a si próprios, pelo autoconhecimento.
Fundamentalmente, a disciplina “examina”. Submete cada indivíduo e o conjunto da população escolarizada a uma sucessão de provas e de provações. Que remetem a uma determinada identidade, que fica, a partir de então, socialmente fixada. Que remetem a uma dada subjetividade, que se torna, a partir daí, possível de ser reconhecida. O exame da disciplina é o dispositivo que funciona como a porta giratória entre o sagrado e o profano, o público e o privado, uma vida de salvação e outra de danação.
O exame disciplinar dispensa a “graça” ou a “condenação”: culto/a ou inculto/a, a inocente ou culpado/a, saudável ou louca/a, digno/a ou indigno/a, bom/boa ou mau/má, inteligente ou atrasado/a, bem-educado/a ou mal-educado/a. As criaturas da disciplina são, acima de tudo, criaturas “examinadas”. Por meio da disciplina, a escola torna-se um aparelho de exame ininterrupto, que acompanha em toda a sua extensão, que acompanha em toda a sua extensão a operação do ensino.
A disciplina exige que se anotem os desempenhos, percebam-se as aptidões, aprecie-se o caráter, modifiquem-se os comportamentos e distinga-se, em relação à sua evolução, quais são os/as examinados/as “normais” e quais são os/as examinados/as “normais” e quais são os/as “patológicos/as”. A disciplina requer vigilância e punição, recompensa e castigo, inclusão e exclusão de regras e normas. Até que cada examinado/a – sujeito/a à/pela disciplina – possa redimir seu corpo e sua alma, uma e outra vez, da infinita culpa do delito de haver nascido... em sociedade, depois de Sócrates.
Por último, podemos pensar mais agudamente e argumentar que talvez não tenhamos o direito de incluir nada no currículo, seja religião, matemática, geografia, cultura popular, problemas sociais e políticos, gênero e sexualidade, filmes de Walt Disney, Aids, etc. O que, na verdade, nos “autoriza” a incluir algum saber e a deixar outros de fora? Quem ou o quê nos fornece autoridade para que possamos decidir quais conhecimentos, disciplinas e áreas devem integrar nossos currículos? Há um “depósito” de saberes, um unitário patrimônio acumulado pela humanidade, de onde os retiramos? Se há, quem o organizou e por que injunções de poder o fez? Há um tipo ideal de sujeito, sempre em falta, que demanda que o completemos com saberes determinados, e não outros? E todos os outros tipos de relações de poder, formas de saber e modos de subjetivação, cujas possibilidades de invenção ficam, desse modo, fechadas? Precisamos perguntar: que preço pagamos nós, educadores/as, e nossos/as estudantes por essas arbitrariedades de escolha? Quanto nos custa ser o que somos, ensinar o que ensinamos, aprender o que aprendemos? Quantas mortes, dominações, explorações, coerções e violências contra as/os outras/os e contra nós mesmas/os preservamos e fortalecemos por meio dessas escolhas inclusivas, dentre as quais a do ensino religioso no currículo escolar?
Observação: Artigo tirado da revista Pátio – Ano IV, n. 16, FEV-ABR. 2001.
Sandra Corazza – professora no Departamento de Ensino e Currículo e no Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da UFRGS.
Escrituras Sagradas do Cristianismo
Dentre as antigas literaturas que chegaram ao nosso tempo e continuam vivas entre nós está a Bíblia. Há séculos, ela é venerada pelos seguidores de duas religiões, a judaica e a cristã, que nela buscam a fundamentação de suas práticas e idéias religiosas, de seus cultos e suas teologias. A palavra vem do grego (hè Biblos) e ganhou destaque com o cristianismo, mas sua primeira aparição deu-se no século 2 a.C, num documento do judaísmo - Carta de Aristeu - da diáspora de Alexandria, no Egito, que se serve da fórmula hè Biblos para designar os textos que formam o Livro sagrado da lei de Israel.
A Bíblia é uma coletânea de textos, ou "livros", de tamanhos, formas e estilos diferentes, cada qual com sua natureza e função próprias. Mas todos eles são a expressão de profundas experiências humanas e religiosas referidas ao Deus Único. São livros que atestam o nascimento e o sentido tanto do judaísmo como do cristianismo. A Bíblia é o testamento de Deus, a atestação escrita da Aliança de Deus com a humanidade.
O latim dos cristãos adotou a palavra testamentum, em português, testamento, para designar a dimensão espiritual desse pacto. Por extensão, testamento passou a designar também o registro ou a transcrição da Palavra de Deus.
A Bíblia dos cristãos
Até a metade do século 2, a única Escritura admitida como sagrada pelos cristãos era a do judaísmo: a Tora, os Profetas e os Escritos. Mas eles procuravam guiar-se também pelas palavras e pelas ações de Jesus recolhidas e transmitidas por seus primeiros discípulos, ou apóstolos, que "munidos das instruções de Nosso Senhor Jesus Cristo, plenamente convencidos por sua ressurreição, confirmados em sua fé na Palavra de Deus, e impregnados da segurança dada pelo Espírito Santo, iam mundo afora anunciando a boa-nova da vinda do Reino dos céus", como escrevia Clemente de Roma, por volta do ano 95 (Carta aos Corintios XLII, 3). A boa-nova (do grego euangelion, Evangelho) era anunciada e transmitida apenas oralmente. Não havia ainda um "Novo" Testamento escrito, e venerado como tal. Sua formação vai se dar através de um processo gradual: para não se perder, o ensinamento apostólico acerca de Jesus foi sendo aos poucos registrado em curtos textos que narravam o que Jesus falara ou fizera e o que acontecera com ele após sua morte. Graças aos novos textos que iam sendo compostos, a Igreja nascente podia justificar a sua fé, celebrar a memória de Jesus e anunciar a sua Palavra por toda a terra. Isso acabou levando a comunidade cristã a ela passou a dispor de dois conjuntos de textos como registro de duas versões do único Testamento divino: a versão primeira, ou Antigo Testamento, e a versão segunda, ou Novo Testamento. A primeira foi elaborada e escrita ao longo de séculos da vida do povo judeu. A segunda, criação da Igreja cristã nascente, em menos de um século.
É nesse contexto que surge a nova terminologia para evocar duas formas escritas da Aliança. O apóstolo Paulo é o primeiro a utilizar as expressões "Antigo Testamento" e "Novo Testamento" (2 Cor. 3, 6.14). O livro sagrado dos cristãos passaria a ser o Antigo e o Novo Testamento; essa interação entre um e outro é essencial para o próprio sentido da fé cristã.
Formação e recepção do novo Testamento
O Novo Testamento é uma coleção de 27 livros: 4 Evangelhos, os Atos dos Apóstolos, 13 epistolas (cartas) atribuídas a Paulo, 3 a João, 2 a Pedro, 1 a: Tiago, 1 a Judas, a Epístola aos Hebreus e o Apocalipse.Foram escritos na segunda metade do século 1 (à exceção da. 2U Epístola de Pedro e das 3 de João, do início do século 2), por autores diferentes e em variados lugares, mas a todos atribui-se uma origem apostólica. Neles não há um só texto do punho de Jesus, mas todos foram escritos para repercutir o eco de sua Palavra.
As epístolas paulinas são os textos mais antigos, pois datam dos anos 50 e 50; o Evangelho de Marcos, o primeiro dos quatro Evangelhos a ser redigido, só o foi no ano 70, quase 40 anos após a morte de Jesus; os três outros - Mateus, Lucas e João - surgem após o ano 80. No decorrer de pelo menos dois séculos esses livros não eram considerados sagrados. Seu objetivo era conservar e transmitir o conteúdo da pregação cios apóstolos acerca de Jesus: seus autores apoiavam-se na Escritura sagrada do judaísmo para interpretar e anunciar o sentido da vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus, confessado por seus discípulos como o Cristo, isto é, o Ungido de Deus, o Messias.
O reconhecimento, a aceitação e a difusão - na linguagem cristã, a recepção desses 27 livros não se deram de uma só vez e nem ao mesmo tempo. No final do 1º século, alguns deles já circulavam entre os cristãos e eram certamente lidos com veneração, mas não lhes era atribuído um caráter propriamente sagrado: é o que se depreende, por exemplo, de algumas passagens da carta de Clemente de Roma. Nelas, ele faz alusão "às palavras do Senhor Jesus" que se encontram nos Evangelhos de Mateus e Lucas, assim como à 1ª epístola de Paulo aos Coríntios. Por sua vez, a 2ª epístola de Pedro menciona "todas as epístolas de Paulo" e, ao que parece, as coloca num plano equivalente "ao resto das Escrituras" (2Pd 3,15-16). É somente a partir do 2º século que encontramos atestações mais precisas acerca de um corpus literário propriamente cristão.
São Justino, escrevendo de Roma, em 150, fala de celebrações durante as quais se liam "as memórias dos apóstolos" e lhes dá a mesma importância que aos livros proféticos da Bíblia judaica. Pela mesma época, a Igreja de Roma foi palco de um delicado debate justamente em tomo da significação e da importância das duas versões do Testamento. Um cristão de nome Marcião afirmava que o Deus de bondade revelado em Jesus nada tinha a ver com o severo Deus da Lei, e por isso propunha que a Igreja cristã fizesse uma espécie de triagem na Bíblia, eliminando tudo o que lembrasse a herança judaica. Para ele, os cristãos só deviam aceitar o Evangelho de Lucas e dez epístolas de Paulo, e mais nada! Sua posição foi rejeitada pela Igreja, da qual ele foi oficialmente excluído, ficando como a figura emblemática do "herege por excelência", por ter ousado cortar a Palavra divina. Sabemos por Irineu de Lião que a Igreja já dava clara preferência aos escritos de Marcos, Mateus, Lucas e João como a.autêntica apresentação da boa-nova, o Evangelho de Jesus. Os traços essenciais do Novo Testamento estavam fixados, mas ainda faltava alguma coisa.
A sagração das Escrituras
Na verdade, faltava o consenso de toda a Igreja acerca da lista exata, completa e comum dos livros que deviam fazer parte do Novo Testamento. Entre outras coisas, discutia-se ainda se sete livros deviam ser aceitos: Hebreus, Tiago, Judas, 2a e 3aepístolas de João, 2a epístola de Pedro e o Apocalipse. Além disso, florescia nas comunidades uma série de outros evangelhos, atos, epístolas e apocalipses também atribuídos aos apóstolos, mas que acabariam por não ser considerados como a expressão mais adequada da mensagem de salvação revelada por Jesus. Era necessário, portanto, que a comunidade cristã selecionasse e definisse de uma vez por todas uma lista oficial. Ou seja, era preciso estabelecer o "cânon" do Novo Testamento, descartando os escritos que, por piedosos que fossem, não correspondiam plenamente à fé eclesial. A Igreja vai então distinguir os livros canônicos (isto é, normativos da fé) dos apócrifos, a exemplo do que o judaísmo palestino fizera no final do 1º século da nossa era para o seu Livro Sagrado. Mas isso também não se fez de um dia para outro.
A lista completa e "fechada" que temos hoje aparece pela primeira vez, embora numa ordem diferente, num escrito de Santo Atanásio, datado de 367 (Carta 39). O 3° Concilio de Cartago, em 397, tornaria essa lista oficial para toda a Igreja. Desde então, o termo canônico (de origem semítica, no sentido literal de "vara reta" e "ré-gua") passou a designar duas coisas: o caráter "correto" e "regular" das Escrituras para a fé; e catálogo ou lista oficial dos livros aceitos. O termo apócrifo (derivado do grego kryptcin, literalmente, em-criptar), tanto serve para designar veneráveis livros extracanônicos ou não normativos, como escritos de caráter herético, claramente expostos á fé. Os estudiosos preferem falar hoje, no lugar de apócrifos, de pseudepígrafos ou de literatura intertestamentária, para evitar ambigüidades.
Os 21 livros são ditos canônicos por serem considerados norma ou regra da fé, a expressão legítima e fiel da vivência dos apóstolos com a realidade terrena e transcendente de Jesus, garantindo assim a autenticidade da proclamação do mistério de Cristo. À luz da fé, a Igreja acolhe esses textos escritos por mãos humanas e lhes atribui um sentido espiritual, neles gravado por Deus. I: neste sentido que eles são - juntamente com os livros do Antigo Testamento - ditos divinamente inspirados, posto que toda a Escritura "é inspirada por Deus" (2Tm 3, 16). Segundo o cristianismo, nas duas versões do único Testamento, encontra-se encerrado para sempre tudo o que Deus quis revelar de seus desígnios para a salvação dos seres humanos.
Observação: Artigo tirado da revista Diálogo, n° 35, Paulinas, agosto de 2004.
Magno Vilela - Professor de História do Cristianismo, mestre em Teologia e licenciado em História (Sorbonne, Paris, França).
lunedì 15 marzo 2010
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